Descripción
Por uma outra internacionalização da educação superior: interdisciplinaridade e interculturalidade como possibilidades
Zambiasi, Fábio 1; Rubin-Oliveira, Marlize 2
1 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR), Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); 2 Departamento de Ciências Humanas (DAHUM), Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR), Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); rubin@utfpr.edu.br
Palavras-chave: Internacionalização, decolonialidade, interdisciplinaridade, interculturalidade.
A internacionalização da Educação Superior (ES) é um tema que ganhou destaque nas agendas de gestão de instituições de ES e de políticas públicas nas últimas duas décadas. O tema tem suas origens nos movimentos de globalização do capital e assume, em suas razões, uma tendência de mobilidade de sujeitos e conhecimentos ligados ao privilégio epistêmico, as lógicas do capital, agendas e interesses de um Norte Global historicamente dominante (2). Este resumo tem como objetivo problematizar a internacionalização da ES, a partir das categorias de interculturalidade e interdisciplinaridade, na busca de uma internacionalização epistemicamente mais plural, solidária e inclusiva. O resumo é um ensaio teórico elaborado como parte de um projeto de tese em andamento.
Partindo dos pressupostos epistêmicos decoloniais e analisando estudos recentes acerca da internacionalização, observamos que a internacionalização se configura trazendo em sua dimensão epistêmica a valorização de conhecimentos de matriz ocidental (1), privilegiando pesquisas advindas de sujeitos e lugares (3) que se localizam em regionalidades historicamente dominantes, como os países e instituições do Norte Global. Em sua concepção dominante, a internacionalização se constitui dentro da estrutura (1) do modelo ocidental de universidade e se encontra imbricada aos padrões da colonialidade (4), priorizando a transferência de conhecimentos do Norte Global autodenominado “desenvolvido” ao Sul Global “dependente”, em uma relação do tipo vertical Norte-Sul que marginaliza relações dialógicas e do tipo horizontal. Desse modo, a internacionalização tem privilegiado em suas ações a transferência de conhecimentos que se constituem a partir dos cânones de pensamento (1), teorias e metodologias ocidentais, contribuindo na marginalização e invisibilização de maneiras outras de saber/conhecer que advém da pluriversidade epistêmica, principalmente das pesquisas produzidas por sujeitos localizados em regionalidades não ocidentais, como do Sul Global.
Na busca por uma outra internacionalização, que se desprenda de sua concepção dominante e se constitua como epistemicamente plural, solidária e inclusiva, identificamos na interculturalidade e interdisciplinaridade possibilidades. A interculturalidade como um conceito que reforça a relevância do diálogo intercultural, valorizando as distintas concepções ontológicas e epistemológicas de compreender e representar o mundo/realidade. A interdisciplinaridade, por sua vez, como um conceito que propõe transcender as fronteiras disciplinares e fomentar o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. Ao analisarmos as duas categorias, podemos avançar na compreensão que a interculturalidade e a interdisciplinaridade se colocam como possibilidades para tensionar e ressignificar o universalismo epistêmico ocidental e os pressupostos de um modelo único de ciência que são a base das ações de internacionalização, principalmente porque ambas as categorias trazem elementos que reforçam a relevância da ciência e do diálogo de saberes.
Como resultado, afirmamos que um dos caminhos possíveis na busca por uma outra internacionalização envolve assumir a relevância da interculturalidade e da interdisciplinaridade, a partir das quais a internacionalização poderá se colocar como um meio para abrir pontes de diálogos e conexão entre a pluriversidade epistêmica, ou seja, entre distintas maneiras de saber/conhecer, em um sentido de colaboração horizontal, cooperação solidária e integração regional. Destaca-se que, ao passo em que a internacionalização contribua para potencializar uma pluriversidade de saberes na universidade e transformá-la em um lugar de saber/conhecer pluriverso, poderá ser ampliado o potencial de contribuição da universidade à sociedade, principalmente no enfrentamento da complexidade dos desafios e dos problemas globais que marcam o contexto histórico global atual (4).
Por fim, pontuamos que a busca por uma outra internacionalização envolve um processo muito mais amplo e complexo de descolonização da estrutura do modelo ocidental de universidade (1). As universidades ocidentalizadas se constituem a partir de uma estrutura que se alicerça nas visões euro-norte-cêntricas (1) e, assim, perpetuam um conceito de gestão da internacionalização ligado aos interesses do Norte Global (2; 4). Portanto, pensar em uma outra internacionalização que se proponha a reconhecer e reposicionar outros saberes/fazeres na universidade, a partir de perspectivas interdisciplinares e interculturais, requer acima de tudo avançar na ressignificação e/ou descolonização da estrutura do modelo ocidental de universidade, dado que, ao descolonizar suas estruturas, as universidades poderão avançar na busca por outros conceitos e práticas de internacionalização.
Bibliografía
Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 25-49. Recuperado de https://www.scielo.br/j/se/a/xpNFtGdzw4F3dpF6yZVVGgt/?lang=pt
Rubin-Oliveira, M., Pezarico, G., y Farias, N. (2019). Internacionalização da educação superior: movimentos e tensionamentos contemporâneos. In J. R. Silva, V. J. Chaves, C. Otranto, y J. C. Rothen (Eds.), Das crises do capital às crises da educação superior no Brasil: novos e renovados desafios em perspectiva (81-96). Uberlândia, Brasil: Editora Navegando.
Rubin-Oliveira, M., Wielewicki, H. G., y Pezarico, G. (2019). Internacionalização da educação superior: lugar, sujeito e pesquisa como categorias substantivas de análise. Revista Educação, 44, 01-26. Recuperado de https://doi.org/10.5902/1984644433141
Stein, S., y Silva, J. E. (2020). Challenges and complexities of decolonizing internationalization in a time of global crises. Revista Educação Temática Digital, 22(3), 546-566. Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8659310